“Os nossos antepassados viviam ao ar livre. Sua familiaridade com o céu noturno era igual à que temos hoje com nossos programas favoritos de televisão. O Sol, a Lua, as estrelas e os planetas, todos nasciam no leste e se punham no oeste, cruzando o alto do céu nesse meio tempo. O movimento dos corpos celestes não era simplesmente uma diversão, provocando uma saudação ou resmungo reverente; era a única maneira de reconhecer as horas do dia e as estações. Para os caçadores e colhedores, bem como para os povos agrícolas, conhecer o céu era uma questão de vida ou morte.” (SAGAN, 1994, p. 15)
O céu noturno é observado por nós humanos há milhares de anos, em diversas regiões do mundo. A visão das estrelas sempre fascinou a humanidade desde os primórdios e fez com que diversas interpretações fossem formuladas em vários períodos por diferentes povos a partir dessas observações. Alguns consideravam que elas poderiam ser seres superiores ou divindades, outros se serviam das estrelas para predizer o futuro, enquanto que outros estavam motivados por uma curiosidade puramente cientifica.
Admirar o céu noturno estrelado pode até ser visto como algo simplório e muitas vezes trivial para a vida das pessoas nos dias atuais, já que nas cidades o dia-a-dia da maioria é tumultuado e cheio de afazeres “mais importantes”. A cidade também faz com que a beleza do céu noturno passe despercebida diante nossos olhos, pois o brilho da maioria das estrelas é ofuscado pelo brilho das luzes artificiais que existem nesses centros urbanos. Se você já esteve em um local isolado, longe das grandes cidades e olhou pra cima por um breve momento, talvez você já tenha tido a experiência fascinante que é a visão dessa pequena parte do universo da qual podemos deslumbrar diariamente de nossa nave Terra.
Nesses locais isolados e escuro é possível observar dezenas de centenas de estrelas a mais do que as que são visíveis na cidade. Outra coisa incrível para se observar é uma larga franja de luz branca e difusa cortando o céu, como se fosse uma nuvem. Os antigos gregos diziam que essa faixa de luz difusa era o leite da Deusa Era esguichado de seus seios para o céu, dessa ideia foi que surgiu o nome que conhecemos hoje: Via Láctea (caminho de leite) – a nossa galáxia.
Quando olhamos para cima com a vista desarmada e vemos essa luz difusa não imaginamos o que ela realmente é: mais e mais estrelas, que por serem tantas e estarem tão “misturadas” dão o aspecto leitoso e continuo que vemos no céu. Porem quando se observa com um telescópio, sua aparente continuidade desaparece, e é possível verificar que na verdade se trata de uma imensa quantidade de estrelas das quais o nosso Sol é apenas mais uma perdida na colossal quantidade existente, assim como um grão de areia perdido em uma praia.
De fato é isso que uma galáxia é, um aglomerado de estrelas, gases e pó cósmico. A nossa Via Láctea é uma galáxia espiral e possui uma extensão aproximada de cem mil anos-luz (um ano luz é a distância percorrida pela luz em um ano, isto é da ordem de 9.500.000.000.000 de Km - 9,5 trilhões de quilômetros). O nosso Sol pertence a essa galáxia e está situado nos subúrbios de um braço obscuro da espiral da galáxia, à cerca de 30.000 anos luz do núcleo.
Da Terra nos vemos a Via Láctea como se olhássemos da beirada do disco para o centro e isso explica porque ela aparece nos céus (para nós) como se fosse uma franja, com sua zona mais brilhante situada na direção do centro.
A Via Láctea possui em sua totalidade aproximadamente 200 Bilhões de estrelas, e no universo existem muitas outras galáxias similares a nossa. As galáxias estão espalhadas pelo universo como se fossem conjuntos de ilhas, a mais próxima de nós e que faz parte do nosso grupo de galáxias é a Galáxia de Andrômeda que pode ser visualizada como uma luz tênue a partir de telescópios modestos.
A fotografia a baixo mostra uma incrível imagem obtida através do Telescópio Espacial Hubble denominada campo ultra profundo do Hubble que remonta uma visão de como era o universo há cerca de 13 Bilhões de anos atrás, quando a tênue luz dessas galáxias primordiais partiram para sua longa jornada até chegar a nós.
Para conseguir captar a tênue luz dessas galáxias o telescópio Hubble ficou apontado para uma pequena parte do céu durante 11 dias, captando todo fóton de luz de uma pequena região do espaço que aparentemente não tinha nada.
Observando a imagem correremos o risco de achar que os pontos luminosos se tratam de estrelas, mas na realidade são galáxias - milhares delas. Agora pense: Sabemos que as galáxias são aglomerados de gases, poeira cósmica e estrelas. Sabemos também que em órbita de muitas dessas milhões /bilhões de estrelas que compõem as galáxias pode haver planetas (como é o caso do nosso sistema solar) e que alguns dos planetas talvez possam ter algum tipo de vida em algum estagio de evolução: muito baixo ou quem sabe até mais avançado que o nosso, no entanto ainda não temos evidencias necessárias para afirmar a existência desses seres.
O fato é que quando observamos o universo e imaginamos a quantidade de galáxias, estrelas, mundos e possíveis seres que os habitam esses mundos, ficamos um pouco desconfortáveis, assombrados com o infinito que nos cerca e percebemos o quão nós, seres humanos, somos minúsculos - uma pequena capa de vida sobre uma bolinha azul perdida em meio à escuridão do espaço.
Referências:
Sagan, Carl (1994). Pálido ponto azul: Uma Visão do futuro da humanidade no espaço, New York: Random House.Documentario Cosmos: Uma viagem pessoal - Carl Sagan, 1980.