domingo, 23 de outubro de 2011

Observando no Escuro


“Os nossos antepassados viviam ao ar livre. Sua familiaridade com o céu noturno era igual à que temos hoje com nossos programas favoritos de televisão. O Sol, a Lua, as estrelas e os planetas, todos nasciam no leste e se punham no oeste, cruzando o alto do céu nesse meio tempo. O movimento dos corpos celestes não era simplesmente uma diversão, provocando uma saudação ou resmungo reverente; era a única maneira de reconhecer as horas do dia e as estações. Para os caçadores e colhedores, bem como para os povos agrícolas, conhecer o céu era uma questão de vida ou morte.” (SAGAN, 1994, p. 15)

O céu noturno é observado por nós humanos há milhares de anos, em diversas regiões do mundo. A visão das estrelas sempre fascinou a humanidade desde os primórdios e fez com que diversas interpretações fossem formuladas em vários períodos por diferentes povos a partir dessas observações. Alguns consideravam que elas poderiam ser seres superiores ou divindades, outros se serviam das estrelas para predizer o futuro, enquanto que outros estavam motivados por uma curiosidade puramente cientifica.

Admirar o céu noturno estrelado pode até ser visto como algo simplório e muitas vezes trivial para a vida das pessoas nos dias atuais, já que nas cidades o dia-a-dia da maioria é tumultuado e cheio de afazeres “mais importantes”. A cidade também faz com que a beleza do céu noturno passe despercebida diante nossos olhos, pois o brilho da maioria das estrelas é ofuscado pelo brilho das luzes artificiais que existem nesses centros urbanos. Se você já esteve em um local isolado, longe das grandes cidades e olhou pra cima por um breve momento, talvez você já tenha tido a experiência fascinante que é a visão dessa pequena parte do universo da qual podemos deslumbrar diariamente de nossa nave Terra.

Nesses locais isolados e escuro é possível observar dezenas de centenas de estrelas a mais do que as que são visíveis na cidade. Outra coisa incrível para se observar é uma larga franja de luz branca e difusa cortando o céu, como se fosse uma nuvem. Os antigos gregos diziam que essa faixa de luz difusa era o leite da Deusa Era esguichado de seus seios para o céu, dessa ideia foi que surgiu o nome que conhecemos hoje: Via Láctea (caminho de leite) – a nossa galáxia.

Quando olhamos para cima com a vista desarmada e vemos essa luz difusa não imaginamos o que ela realmente é: mais e mais estrelas, que por serem tantas e estarem tão “misturadas” dão o aspecto leitoso e continuo que vemos no céu. Porem quando se observa com um telescópio, sua aparente continuidade desaparece, e é possível verificar que na verdade se trata de uma imensa quantidade de estrelas das quais o nosso Sol é apenas mais uma perdida na colossal quantidade existente, assim como um grão de areia perdido em uma praia.

De fato é isso que uma galáxia é, um aglomerado de estrelas, gases e pó cósmico. A nossa Via Láctea é uma galáxia espiral e possui uma extensão aproximada de cem mil anos-luz (um ano luz é a distância percorrida pela luz em um ano, isto é da ordem de 9.500.000.000.000 de Km - 9,5 trilhões de quilômetros). O nosso Sol pertence a essa galáxia e está situado nos subúrbios de um braço obscuro da espiral da galáxia, à cerca de 30.000 anos luz do núcleo.

Da Terra nos vemos a Via Láctea como se olhássemos da beirada do disco para o centro e isso explica porque ela aparece nos céus (para nós) como se fosse uma franja, com sua zona mais brilhante situada na direção do centro.

A Via Láctea possui em sua totalidade aproximadamente 200 Bilhões de estrelas, e no universo existem muitas outras galáxias similares a nossa. As galáxias estão espalhadas pelo universo como se fossem conjuntos de ilhas, a mais próxima de nós e que faz parte do nosso grupo de galáxias é a Galáxia de Andrômeda que pode ser visualizada como uma luz tênue a partir de telescópios modestos.

A fotografia a baixo mostra uma incrível imagem obtida através do Telescópio Espacial Hubble denominada campo ultra profundo do Hubble que remonta uma visão de como era o universo há cerca de 13 Bilhões de anos atrás, quando a tênue luz dessas galáxias primordiais partiram para sua longa jornada até chegar a nós.

Para conseguir captar a tênue luz dessas galáxias o telescópio Hubble ficou apontado para uma pequena parte do céu durante 11 dias, captando todo fóton de luz de uma pequena região do espaço que aparentemente não tinha nada.

Observando a imagem correremos o risco de achar que os pontos luminosos se tratam de estrelas, mas na realidade são galáxias - milhares delas. Agora pense: Sabemos que as galáxias são aglomerados de gases, poeira cósmica e estrelas. Sabemos também que em órbita de muitas dessas milhões /bilhões de estrelas que compõem as galáxias pode haver planetas (como é o caso do nosso sistema solar) e que alguns dos planetas talvez possam ter algum tipo de vida em algum estagio de evolução: muito baixo ou quem sabe até mais avançado que o nosso, no entanto ainda não temos evidencias necessárias para afirmar a existência desses seres.

O fato é que quando observamos o universo e imaginamos a quantidade de galáxias, estrelas, mundos e possíveis seres que os habitam esses mundos, ficamos um pouco desconfortáveis, assombrados com o infinito que nos cerca e percebemos o quão nós, seres humanos, somos minúsculos - uma pequena capa de vida sobre uma bolinha azul perdida em meio à escuridão do espaço.

Referências:
Sagan, Carl (1994). Pálido ponto azul: Uma Visão do futuro da humanidade no espaço, New York: Random House.

Documentario Cosmos: Uma viagem pessoal - Carl Sagan, 1980.

Um comentário:

  1. Mesmo com a correria do dia-a-dia, como foi citado no texto, é incrível como as pessoas não tem noção de toda essa maravilha que está bem acima de nós, ao alcance dos olhos.

    Hum... Tirando alguns erros (acentuação), que de certa forma não são tão relevantes quanto o conteúdo, é uma boa explicação.

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